EXPOSIÇÃO SALA DA CIDADECOIMBRA, PORTUGAL

MAIS AMOR POR FAVOR

Há sofrimentos tão abomináveis que são incompreensíveis, numa sequência errante de corpos, lugares, gestos – olhá-los é pensar que os dias não sabem a nada e que a vida precisa de ser endireitada todos os dias.  Hipnotizados por cartografias que excluem a existência da vida digna e em plenitude, quantos somos presas inertes e agrilhoadas em ideias que imobilizam, numa correria frenética que não é caminhar?

Aqui e ali, as interpretações são um jogo de escolha múltipla, mas as canções de amor não se escrevem sozinhas.

Há desamores e não-amores que nos trazem o amargo da repugnância petrificante, silêncios fundos e relâmpagos que desembrulhamos ainda no dia seguinte e no outro também, que nos esgotam o ímpeto da sobrevivência na densidade da existência. 

Colam-se às nossas pernas num triste descompasso. 

Queremos enxotá-los e pensar sonhos felizes, antigos, perfumados, pensar no amor incondicional, no amor-só-amor, e os olhos estão no chão e o mundo dói, porque a vida é maior do que todos os sonhos antigos, perfumados, felizes. 

A alegria cola-se nos cantos da boca. Uma correria frenética que não é caminhar.

Consegues ler esses sinais nas estrelas da alegria, do arrependimento, do rancor, da esperança, do abismo?

E logo até vem a lua e vou ter flores na cabeça e abraços e pensamentos bravios, e só penso que devíamos estar nas ruas, nas praças, nos palcos e nos púlpitos, a implorar que se inventem asas salvadoras do mundo e a gritar, a gritar MAIS AMOR, POR FAVOR

Há coisas que deviam nidificar os corações. 

Onde anda o teu?

Teresa Carreiro

SÍNTESE EXPOSITIVA

Com a sua arte comprometida, a sua pintura com uma forte mensagem de contraste e alerta e com dicotomias fortes, a artista Paula Gouveia denuncia a banalização da indiferença, o corre-corre, a condição humana sem esplendor, o desmembramento do cosmos e da harmonia, indo pela essência das cores da vida e da terra – escarlates e negro, o branco, muito fogo e cores-ferrugem, azuis-céu – o seu universo cromático, como forma de chegar aos corações presentes, neste espaço expositivo da cidade de Coimbra.

A insistência no rectângulo, uma presença nas telas da artista, empurra-nos para o deciframento e para o comprometimento com a mudança, devolvendo-nos à rua ou a casa com matéria fértil para o pensamento, quem sabe, quem sabe – Mais Amor, por favor.

As peças escultóricas de Carlos Ramos, densas, de grande formato, e percebe-se o contraste da sua materialidade bruta com a graciosidade e delicadeza das formas, como se de um material leve e frágil se tratasse, o que tanto a artista admira.

Da autoria de Teresa Carreiro, os textos delicados e espraiados que acompanham as telas evocam MAIS AMOR POR FAVOR. Fazem-nos reflectir baixinho sobre como é importante uma mudança nas nossas vivências, no nosso quotidiano, no nosso “para quê e para onde”.

E, finalmente, a curta-metragem, da dupla Maria Miguel & Bibiana Nunes, encerra em plena ligação este circuito da Sala da Cidade, sublinhando as linhas de força da temática aqui apresentada, como num apelo – more love, who cares?

A unificação das quatro linguagens aqui presentes, de acordo com a temática expositiva apresentada, resulta numa pluralidade que unifica, contaminada pela obra de Paula Gouveia, com a sua matéria-prima temática central  forte e de respiração intensa. Estas linguagens distintas, interligadas mas autónomas, têm o objectivo inequívoco de apresentar uma mensagem única, em prol da necessidade de alerta para realidade do mundo onde a solidariedade é um bem escasso, em que todos vivemos na vizinhança da solidão, da vertigem, do abandono, da indiferença, do frenesim, em dor. Em suma: sem amor.